segunda-feira, 27 de julho de 2009

Eu não tenho vitrola


Gosto das vitrolas. Adoro vinil. Quando pequeno eu tive quatro de artistas nada alternativos, nada artistas. Mas meu irmão tinha um do Michael Jackson. E ele brincava, moleque, de imitar os passos do Michael. Já eu brincava de imitar os passos do meu irmão. Ele - meu irmão- era fã do Jackson, eu era fã do meu irmão. Afinal de contas, o Michael Jackson era estranho, tinha uns esparadrapos envolta dos dedos e uma aparência meio esquisita. Meu irmão, não, era parecido comigo e eu era a chinela havaina dele.
Quando eu entrei na universidade havia uns vinis velhos enfeitando a pracinha da didática 1, uma amiga minha fez eu arrancar os vinis porque ela queria enfeitar o quarto. Então mesmo não sendo criança - mas continuando a achar o Michael Jackson estranho - eu passei a imaginar que quem compra vinil não tem vitrola para tocar. Compra apenas porque as capas são muito interessantes e juntos - vinil a vinil - forma-se um tapete encantador, psicodélico, que dispensa o uso de alucínogenos
Quando eu vi o carinha que vende vinil eu tive vontade de perguntar se as pessoas que compram vinis tem vitrola, mas tive vergonha. O cara era um velho conhecido. Nós estudamos juntos na oitava série e eramos classificados por números: turma 183. Ele era - ou é - bem inteligente, e tinha um papo alternativo. As meninas interessantes cercavam ele. Não conversavamos nunca, mas eramos bom em História e um dia conversamos sobre Revolução Cubana, Fidel Castro, Che... E discutimos muito.
No ano seguinte participei de grêmio acadêmico, fui vaiado em assembléia por defender greve, escrevi para jornal do Cefet e alfinetei a direção, admirei o Mpl, li alguns textos, conheci o Ezln e as teoria anarquistas que (quase) ninguém conhece, fui a shows de reggae - Africa Uhuru e Oganjah - tive uma vida secundarista bem tumultuada até decidir não acreditar mais no movimento estudantil e dirigir Perdoa-me por me traíres!
Hoje fujo de Centros Acadêmicos, de campanha política, de partidos, de pseud0-bons-intelectuais. Mas só não compro vinil porque não tenho vitrola (ainda), mas pretendo adquirir alguns. E caso você não tenha vitrola, e mesmo assim não queira compra vinis... Passa por lá e conversa com o cara sobre Revolução Cubana

EULer Lopes Teles
Imagem: Aimée Rezende

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